The Neighbor de Marcus Dunstan é uma longa-metragem norte-americana presente na secção Serviço de Quarto da décima edição do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror que ontem se iniciou no Cinema São Jorge, em Lisboa.
John (Josh Stewart) e a sua namorada Rosie (Alex Essoe) ganham a vida com alguns negócios ilegais. Com uma invulgar curiosidade sobre as acções do seu vizinho Troy (Bill Engvall), Rosue espia-o com o seu telescópio testemunhando um conjunto de comportamentos que revelam que algo perigoso sucede no terreno ao lado. Mas é quando percebe que Troy também está de olho nela, que todos os acontecimentos se revelam.
Os instantes iniciais de The Neighbor revelam aquilo que o próprio espectador deduz ser a realidade dos pequenos meios rurais onde cada um sobrevive de acordo com as poucas possibilidades que a vida lhe proporciona. Entre um conjunto de esquemas ilegais e algum contrabando que conferem aquele dinheiro extra que pode ajudar a viver de forma descomplicada mais uma dias, o casal protagonista tem, também eles, objectivos de uma vida fora de um meio que foi para ambos o "normal" durante toda a sua vida. Mas... o que aconteceria se percebessem que por entre a sua própria ilegalidade existisse alguém que conseguia ser ainda mais perigoso e ameaçador - inclusive para a sua própria segurança - do que eles?
O argumento de Dunstan e Patrick Melton que já haviam colaborado aliás para alguns dos títulos da saga Saw, responde a isto de forma bastante óbvia... quando pensamos que as nossas atitudes são transgressoras... existe sempre alguém que ainda transgride para além da nossa imaginação. Mais, presente em The Neighbor está uma componente voyeurista através do comportamento de "Rosie" que desenvolve pelo seu vizinho uma inesperada obsessão, a qual é respondida com um igualmente simples pressuposto... quando pensas que estás a observar os outros prepara-te que eles já estão a observar-te.
Longe de um terror tradicional onde o sobrenatural ganha forma e lugar, The Neighbor concentra-se naquele terror escondido na casa ao lado onde a violência física e psicológica são os motes para alcançar um conjunto de objectivos - sempre ilícitos - e o sofrimento dos outros é uma forma de vida - a própria - que, no entanto, apenas enriquece monetariamente sem nunca o fazer social ou culturalmente. O tal terror que se apodera lentamente das vidas da comunidade, desde a população às autoridades que, na sua mentalidade, vê no bem-estar e enriquecimento dos outros o escape para a sua ascenção financeira rápida e eficaz... mesmo que para isso se tenham de cruzar com a morte.
A violência é, portanto, uma constante. Quer nas relações estabelecidas entre os cúmplices dos negócios de "John" e "Rosie", quer depois na interacção destes com o chefa da máfia local e, futuramente, na inesperada luta pela sobrevivência que ambos têm de encetar face à impiedosa vingança de "Troy", um homem disposto a tudo para ter aquilo que quer.
Bill Engvall e a sua composição de "Troy" como aquele vizinho reservado e metido nos seus assuntos, estranhamente simpático mas que o espectador percebe de imediato mais não ser do que a sua forma de "avisar" aqueles que o incomodam para se manterem afastados, é o maior trunfo de um filme de um suspense moderno onde o terror se afirma e esconde nas pacatas residências de um interior rural e profundo - assumidamente bem pior do que qualquer grande metrópole - onde habita quem se quer esconder de uma realidade que não é aceite. Com um sorriso presente e um olhar malévolo, Bill Engvall consegue, no entanto, conferir alguma humanidade ao seu vilão que sem nunca o revelar de forma clara e explícita, o espectador subentende que as suas acções têm uma origem e um passado de uma qualquer justiça - aos seus olhos - que lhe é devida.
Com a premissa de que o mal - ou pelo menos uma vertente de um mal - não está só e que muitos o acompanham, o espectador termina este filme num local ideal no qual, tal como havia sido avisado anteriormente, outros espreitam, espiam, investigam e preparam-se para um novo e eventualmente mais preparado e violento ataque... do qual poderão (podermos) não conseguir escapar.
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7 / 10
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