Sibylle de Michael Krummenacher é uma longa-metragem alemã presente na secção competitiva Melhor Longa Europeia da décima edição do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa, a decorrer no Cinema São Jorge até ao próximo dia 11 de Setembro e que nos revela a vida de Sibylle (Anne Ratte-Polle) a partir do momento em que passa férias com a sua família em Itália.
Depois de rumarem à casa de férias, Sybille faz a sua caminhada matinal longe do marido e dos filhos. Pelo caminho encontra uma mulher que cumprimenta sem resposta. A mulher salta da falésia e Sibylle pressente-o sem, no entanto, assistir ao acto.
De regresso à sua Alemanha natal, Sibylle começa a denotar estranhos comportamentos no marido e nos filhos que julga já não serem as mesmas pessoas que até então. Estará Sibylle a viver uma realidade paralela ou terá alguém ocupado o lugar da sua família?
Silvia Wolkan em parceria com Krummenacher escrevem o argumento deste filme que cruza o imaginário de um filme fantástico mas com acentuados elementos de uma realidade perturbada e que ultrapassa a fronteira da anunciada loucura. Desde o primeiro instante que o espectador acompanha o percurso de "Sibylle" que percebe que os seus comportamentos se demarcam dos demais. Esta mulher que é aparentemente tão normal como outra qualquer, parece viver alheada de um mundo terreno não tanto pela sua ausência física mas sim pelo facto de criar uma certa barreira com o seu próprio círculo familiar.
Longe de o seu habitat natural e presa a umas férias que afastam todos os demais turistas do local onde está - por momentos o espectador parece cruzar um espaço onde esta família espera por algo como que de uma penitência cristã se tratasse - e todo o complexo turístico parece para eles reservado sem que os próprios percebam o seu domínio num espaço semi-abandonado. Aliás, todo este ambiente pouco natural é sentido não só no espaço onde passam as suas férias mas também na sua cidade natal e dentro da sua própria casa onde tudo parece geometricamente desenhado e "encenado" para que exale uma estranha, e até incomodativa perfeição.
Para "Sibylle" a sua família mudou... De um marido ausente a um filho já adulto que a começa a violentar física e verbalmente, a um jovem "Luca" que demonstra um medo quase irracional dos afectos que ela lhe quer transmitir, nada faz sentido no recente universo desta mulher que se sente estranha aos olhares incómodos do exterior. Os ruídos acumulam-se, vizinhos que espreitam da janela em frente, médicos que se riem dela e o cada vez maior e mais agressivo comportamento da família só podem ter duas explicações... ou eles já não são as mesmas pessoas que eram e "Sibylle" vive uma experiência extra-corpórea ou, por sua vez, assistimos a todo um mundo novo onde aqueles que a rodeiam pretendem (de forma pouco coerente) interpretar o seu ambiente natural não conseguindo, no entanto, convencê-la de que tudo está... "normal". Desconfiando quer de uma quer de outra hipótese, o espectador tem apenas uma certeza... algo se passa na psique desta mulher que a obriga a transgredir os limites da (sua) razão e assumir um comportamento claustrofóbico e lunático a céu aberto e, à medida que a sua investigação sobre "Klara" (a suicida) se desenvolve, "Sibylle" percebe que os comportamentos que poderão ter originado a sua fuga através da morte são, para ela, cada vez mais reais e presentes.
Com a incerteza - para o espectador - de um destino cíclico cumprido do qual apenas temos pequenas pistas sobre o quão pode ser quebrado, "Sibylle" apresenta toda uma atmosfera que transcende o terror sobrenatural - ainda que todos os elementos se encontrem lá presentes -, levando o espectador a uma viagem a um terror atmosférico, surreal, que cruza os limites da sanidade entrando por uma loucura não assumida ou exteriormente manifestada mas que provoca um constante e permanente desconforto, um sufoco mental inquietante e a certeza de que a realidade - ao serviço de uma premonição não reclamada - pode e tem sempre duas realidades distintas... aquela que o sujeito A experimenta e sente... e aquela que todos os demais observam pela presença, actos e manifestações do mesmo.
Com um terror diferente, mais real do que sobrenatural e um sentido piscar de olho a presença de um demónio que pouco se revela, Sibylle leva o espectador a um sentido desconforto mental e a uma viagem pelos limites de um desconhecido inferno terreno.
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6 / 10
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