segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Southbound (2015)

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Southbound de Roxanne Benjamin, David Bruckner, Patrick Horvath e Radio Silence é uma longa-metragem norte-americana presente na secção Serviço de Quarto da décima edição do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa que terminou esta noite no Cinema São Jorge.
Uma estrada no deserto. Várias pessoas vivem os seus dramas pessoais numa viagem que parece não ter fim interligando as suas narrativas num confronto que cruza o passado e o presente, a culpa e a penitência e a vida e a morte.
Presos numa sucessão de momentos do presente, todos eles vão ter de enfrentar e finalmente responder por todos os crimes de um passado mais ou menos recente.
Dividido entre cinco diferentes segmentos, Southbound prima por uma mistura de filme de acção com thriller de suspense com toques de sobrenatural apresentando como temática principal dos mesmos a culpa inerente a todos os envolvidos por eventos do passado.
Num primeiro segmento, Southbound revela parte de um enredo que apenas se desvenda no final no qual - início e fim - revelando inicialmente dois homens que escapam de misteriosas criaturas que os perseguem como consequência de actos praticados e que apenas conheceremos no final. É neste primeiro instante que o espectador conhece a faceta sobrenatural desta história e como o mundo real - ou pelo menos como assim o pensamos - se transforma pelos crimes cometidos ou eventos traumáticos passados condicionando, dessa forma, os destinos... ou aquilo que deles resta.
O segmento seguinte apresenta ao espectador três jovens mulheres, "Ava", "Kim" e "Sadie", que formam aquilo que resta da sua banda rock depois do desaparecimento de "Alex", recentemente falecida. Depois de uma avaria na sua carrinha e perdidas na mesma estrada sem fim, as três jovens aceitam boleia de um simpático e conservador casal que tem os seus próprios planos para as mesmas. Quando "Sadie" se apercebe que algo está errado e decide fugir, o seu destino poderá estar marcado com uma hora para o final.
Directamente ligado à história e à fuga de "Sadie" temos o terceiro segmento de Southbound que apresenta "Lucas" (Mather Zickel) - também ele na mesma estrada - desesperadamente a querer terminar uma viagem e chegar a casa. Numa breve distracção, "Lucas" atropela "Sadie" dando origem à sua própria penitência rumo a um hospital abandonado no centro da única cidade que se encontra a milhas de toda a demais civilização. "Lucas" tem de pagar pelo seu desaire e poderá - se pactuar - sobreviver ao mesmo.
A saída de "Lucas" desta cidade dá origem ao seguinte segmento onde um homem procura a sua irmã desaparecida há largos anos. Numa última e desesperada tentativa para a encontrar, este homem depara-se com a real "personalidade" dos habitantes daquela cidade e, tal como o nome do restaurante em que entra indicia... prepara-se para uma mortal armadilha - TRAP.
Finalmente o último segmento de Southbound apresenta uma família - "Darryl", a mulher "Cait" e a filha "Jem" - que chega a um hotel perdido no meio do deserto, e são abordados pelas sistemáticas investidas de três homens que pretendem encetar uma ajuste de contas do qual o espectador apenas confirma pela sugestão que as imagens lhe proporcionam. Estes homens têm uma fotografia de uma rapariga muito jovem... o espectador associa-a a "Jem" e deduz que o seu passado passa pela história dos homens que agora ali chegaram e é o seu destino que faz libertar uma cadeia de acontecimentos que ninguém conseguirá controlar até todos os passados serem expiados.
Por detrás de todas estas histórias existe uma comunidade. Uma população que percebemos estar parada num tempo indeterminado e que reúnem um conjunto de vítimas que terá (?) efectuado um pacto com as tais misteriosas criaturas que acompanham todas as vítimas - algumas delas, inclusive, encarnam "personagens" desta cidade - criando um jogo de gato e do rato, um labirinto onde se perdem aqueles que têm que justificar todo um passado de eventos não explicados e que se concentram na "colecção" de almas daqueles que perdidos atravessam todo um limbo ou purgatório onde os seus crimes serão confessados. A contrapartida? A juventude eterna - ou assim o entendemos.
Com um conjunto de elementos que se unem pela sequência dos acontecimentos e com histórias que marcam a penitência de uma culpa inerente a cada uma as personagens, o mal surge pela reclamação desse "pagamento" em atraso vindo das mais profundezas da Terra... o Inferno como o local das verdadeiras "boas intenções" ganha forma num espaço que, sendo isolado, concentra todas as culpas e almas penadas que não poderá escapar dos seus trágicos destinos. Cumprindo a tradição de que todas as dívidas serão - eventualmente - cobradas, apenas aqueles dispostos a saldar a sua conta poderão alguma vez conseguir escapar. A juventude, a tal época onde subtilmente se afirma que todos os crimes são cometidos, é o tão cobiçado preço de um conjunto de indivíduos que tudo farão - e a tudo estão dispostos - para reclamar esse prémio que apenas reside na ilusão de quem o vê... a corrupção da alma por algo que é tão efémero como a beleza e a vitalidade é reclamada pelos demónios e exibida ao espectador através dos olhares e expressões daqueles que residem num espaço perdido no tempo. Se a juventude existe... é o trabalho para com "o outro lado" que paga essa dívida... e alguns - comprovam - estão dispostos a pagar tão elevado preço entregando a sua alma a entidades que esperam, e preparam, as mais diferentes provações para reclamar as almas dos mais incapazes.
Num conjunto de segmentos que se dividem entre o intenso suspense e a incerteza do destino a que nos leva, Southbound consegue ser um dos mais interessantes e bem elaborados filmes onde toda a sua narrativa se prende com histórias e momentos intercruzados, com cada segmento a reproduzir-se com qualidade e onde as suas histórias não deixam de surpreender pela intensidade e acção com que são filmadas tendo ainda qualidade interpretativa por parte dos seus actores com claro destaque para Mather Zickel num dos mais intensos segmentos de toda a história.
De longe um dos melhores filmes de um género que tantas vezes falha pela falta de ligação entre os diversos momentos e que aqui leva o espectador a uma espiral cíclica de momentos que parecem levar sempre ao ponto de partida mostrando que depois de revelado o tal Inferno pode nunca mais deixar a alma daqueles que captura.
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8 / 10
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