sábado, 24 de novembro de 2018

A Estranha Casa na Bruma (2018)

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A Estranha Casa na Bruma e Guilherme Daniel (Portugal) presente na selecção oficial da XXIVª edição do Caminhos do Cinema Português e curta-metragem já premiada noutros festivais de cinema, adaptada de um conto de H. P. Lovecraft revela a viagem de um peregrino (Daniel Viana) que após percorrer um longo caminho chega a uma enigmática casa cuja porta fica virada para um abismo. Lá dentro um misterioso homem (Carlos Fartura) acolhe-o com um sorriso. Mas, de repente, alguém bate à porta...
A mais recente curta-metragem de Guilherme Daniel lança o espectador num espaço aparentemente transitório entre duas distintas realidades. Por um lado encontramos logo de início uma floresta seca e queimada da qual a vida parece distanciar-se. Por outro, rapidamente este "peregrino" se afasta desta realidade indo sair a um terreno árido junto a uma ravina que desemboca no mar. De uma imensa floresta onde a vida já não tem lugar a um espaço que se caracteriza pela intensa presença da água - eterno símbolo de vida -, o espectador facilmente poderia considerar que toda a caminhada da personagem de Daniel Viana mais não é do que uma mais ou menos lenta travessia por um purgatório que, talvez o próprio, ainda não tenha reconhecido.
Mas, no entanto, é a dinâmica estabelecida no espaço que circunda a misteriosa casa e aquela tida com a personagem de Carlos Fartura já no interior da mesma que se assume como mais surpreendente. Uma alma perdida ou um guardião de mundos desconhecidos? Que a mitologia existe, é um facto, pois aquela enigmática porta e o bater que nela ecoam só podem ser fruto de majestosas criaturas mitológicas do submundo dos mares como, por exemplo, um Neptuno que comanda a partir dali a ligação que mantém com o mundo exterior. No entanto, nunca confirmada que está essa presença, apenas pode decifrar o espectador que aqueles que por ali páram são os que vão, futuramente, assumir o posto de guardião dessa mesma porta... a abrir em condições extremas e especiais. Mas é, quando finalmente decide abri-la, que o seu corpo irá ressurgir num qualquer outro local... talvez este bem mais certo e real do que aquele em que se encontrara e que, de certa forma, poderá confirmar a tese do purgatório.
Inteligente adaptação do imaginário de Lovecraft com um não tão leve toque ambiental - a referência à floresta queimada é infeliz e tragicamente real demais no nosso imaginário -, e com uma rica direcção de fotografia da autoria do próprio realizador que intensifica o género "ambiental", A Estranha Casa na Bruma é um daqueles filmes curtos que pede desesperadamente para se transformar numa história mais consistente e exploratória que faça o espectador embrenhar(-se) pelo imaginário do fantástico conseguindo, sem grandes dúvidas, ser bem sucedida.
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7 / 10
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