segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Quantas Vezes Tem Sonhado Comigo? (2018)

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Quantas Vezes Tem Sonhado Comigo? de Júlia Buísel (Portugal) presente na secção oficial em competição dos Caminhos do Cinema Português a decorrer em Coimbra revela um inesperado encontro entre uma mulher (Catarina Wallenstein) e Mefistófeles (Dinis Gomes), uma figura satânica que a quer aliciar para o seu lado de perdição pelas ruas da Lisboa de Pessoa.
Do Chiado às arcadas do Terreiro do Paço, esta primeira incursão da realizadora transforma a Lisboa que todos reconhecemos num inesperado e solitário purgatório por onde uma mulher (ou aquilo que aparenta ser a sua alma penada), vagueia na esperança de (re)encontrar algo que a volte a unir a uma realidade agora desconhecida.
Esta mulher interpretada por Wallenstein parece sofrer do mal de um luto que a visitou antes do tempo e que a deixou a deambular pelas ruas de um familiar "desconhecido". Lisboa, ou as suas ruas, são assim o seu passeio eterno onde a sua busca parece não ter fim... primeiro por procurar algo que a faça recordar e depois pela esperança dessa memória que não chega. É nestas ruas conhecidas mas incertas que uma figura satânica a visita e a tenta... tenta-a primeiro com uma simpatia e depois com promessas de afectos que o próprio não poderá (ou quererá!) garantir.
Pelas ruas dessa mesma Lisboa onde nada reconhece, ou onde ninguém se vislumbra, são provavelmente as imagens de um incêndio descontrolado que a fazem despertar desse son(h)o profundo que a levam a compreender que essa promessa de afecto e amor garantidos por um marido desaparecido, mais não são do que palavras de alguém que em tempos tentou Jesus saindo gorado, e que vagueia os caminhos de um mundo cada vez mais moderno e onde a sua solidão se acentua. É esta mesma solidão que faz despertar a "Mulher" levando-a a compreender que aquilo que procura não encontrará, muito menos através das promessas vãs de quem, também ele, procura uma companhia que não encontrará.
Com um cenário facilmente identificável e uma história cativante pela forma como expõe a solidão de uma figura satânica e, pensa o espectador, idealmente caprichosa e maldosa, Quantas Vezes Tem Sonhado Comigo? peca "apenas" por uma excessiva teatralidade que parece colocar os seus actores e respectivas personagens num palco improvisado onde a declamação ganha terreno face à natural expressividade de um conjunto esperado de emoções e sentimentos que aqui... nunca ganham forma. Num universo em que o submundo se expõe e aos seus sentimentos... espera o espectador mais do que uma simples declamação de um solidão nunca confessada.
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4 / 10
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