domingo, 25 de novembro de 2018

Madness (2018)

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Madness de João Viana (Portugal/Moçambique/França/Guiné-Bissau/Qatar) curta-metragem da selecção oficial da XXIVª edição do Caminhos do Cinema Português e um dos filmes nomeado ao Urso de Ouro da última edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim.
Lucy (Ernania Raínha) está internada num hospital psiquiátrico de Moçambique mas não desiste de saber do seu filho. Quando pergunta por ele um enfermeiro diz que não vê ninguém. Lucy revolta-se...
A curta-metragem de João Viana é, até ao momento, uma das obras maiores desta edição do Caminhos. Cedo, compreende o espectador, encontramos um ambiente pouco acolhedor dentro daqueles quatro paredes de um hospital onde os seus pacientes definham. A sua condição pouco normalizada e ameaçada com uma potencial incompreensão dos seus porquês, leva-nos a crer que o que ali encontramos ser um espaço onde as almas - sejam elas de que tempo forem - aguardam uma passagem para outro lado que parece não chegar. "Lucy", enquanto uma das pessoas ali internadas, sente uma necessidade extrema, quase tanta quanto aquela que tem para respirar, de saber de um filho que não vê... não sabemos há quanto tempo, e é a ausência de uma informação verídica que a leva a despoletar uma tentativa de fuga. Fuga daquele hospital, daquela prisão que a condena a uma sentença que desconhece - que desconhecemos - e que a impossibilita de concretizar o seu sonho.
No entanto, e voltando ao interior daquele hospital psiquiátrico, existe uma permanente sensação de que aquilo que o espectador observa não é necessariamente um hospital mas sim uma sala de espera - ou melhor, um purgatório - onde aguenta por uma passagem para algo (espera) mais tranquilo e definitivo. A sua residência naquele espaço limita-se pela impossibilidade de avançar no (seu) tempo ao mesmo tempo que dele tenta escapar e encontrar solução para o seu sufoco noutro local. "Lucy" quer evadir-se... e tudo fará para o alcançar.
Se este seu momento dentro do referido hospital se assemelha a uma "passagem", é todo o seguinte segmento na qual finalmente se evade daquele espaço que parecem conferir a esta curta-metragem uma dimensão mais "sobrenatural" (ou fantástica), quando a nossa protagonista parece enfrentar uma viagem impossível repleta de inimagináveis momentos que a transportam sim para os braços de quem deseja mas que, ao mesmo tempo, parecem irreais demais para qualquer um de nós equacionar serem verídicos. Assim, e se por um lado o espectador imagina este filme como um conto dramático sobre a impossibilidade de uma mulher em ver o seu filho, fruto de um internamento que a própria não compreende, é o que esta incompreensão despoleta e origina que o leva a imaginar que todos os comportamentos sucessivos são fruto de uma história de contornos sobrenaturais que a colocam num patamar espiritual diferente daquele que a própria reconhece.
Com uma magnífica interpretação de Ernania Raínha - seguramente uma das melhores do ano - sentida no desconhecimento da sua real situação mas convicta da sua necessidade em encontrar o seu elo mais forte no mundo, o espectador viaja do real ao imaginado e sem esquecer as eventuais marcas de um passado pouco explicado, fazendo de Madness o resultado de uma vida sofrida? De uma loucura não assumida ou, por sua vez, de um qualquer patamar existencial que nem personagem nem espectador reconhecem?!
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8 / 10
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