O Coração Revelador de São José Correia (Portugal) é mais uma das curta-metragens a ser exibidas no Teatro Académico Gil Vicente no âmbito da selecção oficial do Caminhos do Cinema Português.
Dois homens. Um jovem (Rui Neto) e o outro mais velho (Marques d'Arede). O primeiro é paranóico enquanto o último é uma vítima dessa loucura.
Com argumento da própria realizadora baseado num conto de Edgar Allan Poe, O Coração Revelador é um intenso relato sobre a loucura de um homem que aprisiona uma vítima que em tempos amava. Desconhece-se a relação que outrora unira estes dois homens deixando apenas a sugestão de que essa cumplicidade terminou pela permanente convivência de ambos bem como pela perversidade que os pequenos detalhes levaram a uma corrosão do espaço em que ambos viviam.
Ainda que expostos à deterioração da relação de ambos, o conto de Allan Poe consegue manipular de forma mais intensa esse término e expõe os limites - ou a falta deles - de um homem conduzido pela embriaguez da loucura. Da fase do planeamento à execução de um crime de contornos macabros, O Coração Revelador é assim a exposição de uma mente perturbada num ambiente fechado de uma clausura imposta e de uma esquizofrenia que ultrapassou todas as fronteiras e limites.
De ambiente sombrio, esta curta-metragem seduz pelo elemento desconcertante imposto com a interpretação de Rui Neto mas, ao mesmo tempo, satura pela mesma componente na medida em que a quase totalidade desta obra se centra na expressão deteriorada da personagem que sucumbiu face a qualquer directo discernimento racional que o seu pensamento alguma vez tivera. Interessante pela composição da personagem, esta curta-metragem deveria ter explorado de igual forma o ambiente que fora espaço comum entre ambas não se limitando à declamação de um conto que transcreve-se de forma fiel a mente humana - do jovem -, mas sim revelar (tal como o título indica) tudo o que de negativo se foi acentuando na relação bipartida.
Capaz de revelar mais do que a mente, também o coração, esta curta-metragem peca pela escassez de tempo que seria necessário para abrir mais fronteiras entre a dinâmica das duas personagens.
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6 / 10
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