Anteu de João Vladimiro (Portugal/França) presente na competição oficial da XXIVª edição dos Caminhos do Cinema Português a decorrer em Coimbra até ao próximo dia 1 de Dezembro revela a história de Anteu, nascido numa aldeia isolada e o único jovem adulto existente nas redondezas. Depois da morte da mãe e do sucessivo falecimento do pai, Anteu fica sózinho. Quem é Anteu?!
Dividido em dois segmentos específicos o argumento de Anteu inicia o seu primeiro momento intitulado O Berço e a Cova no qual se explora - tal como está implicitamente retratado no título - o nascimento e a morte das principais personagens... da mãe... do pai... transformando-o no único homem presente na sua aldeia. Num meio aparentemente humilde e onde reinam os silêncios resultantes do desconhecimento do mundo exterior, a excelência deste segmento chega não só através do seu argumento mas principalmente pela qualidade técnica com que se expõe o filme lançando diversos segmentos num aparente tromp d'oeil que fazem transitar de um momento para outro criando ilusões sobre a profundidade e o espaço per si que resultam numa dinâmica de intensidade e imensidão que confundem e atraem o espectador. Como principal mensagem deste segmento permanece a ideia da morte presente... o sentido de fim próximo que paira sobre a existência destas personagens que silenciosamente atravessam a vida sem que nunca ambicionem mais um dia.
É neste marasmo de fim anunciado que surge o segundo momento intitulado A Máquina. Aquele em que Homem e Mecanismo não se confrontem mas se complementam existindo um para satisfazer a necessidade última do outro deixando, no entanto, o espectador incerto sobre como os seus propósitos e fins se irão, de facto, complementar. "Anteu" parece carregar o peso do mundo às suas costas e a sua sentida solidão agudiza-se quando tudo à sua volta parece perdido. O espaço é por ele contemplado como que fazendo o espectador observar uma última despedida apenas interrompida pela execução de uma tarefa que irá determinar tanto o espaço como a sua própria existência no mesmo. "Anteu", jovem homem de poucas palavras irá agora determinar o fim... de tudo. É com o tempo que compreendemos que a sua construção com o auxílio da máquina é a concretização última da sua despedida de um mundo do qual nada mais - se é que alguma vez - pode esperar. Intensamente dramático pela força dos seus silêncios, "Anteu" perde-se e rendeu-se ao único espaço que alguma vez conheceu... possivelmente melhor do que a ele próprio pela ausência de influências externas.
João Vladimiro cria uma curta-metragem que presta homenagem ao silêncio dos espaços perdidos por um país - qualquer um - que se rendeu à urbanização. A desertificação do espaço e do meio levam ao esgotamento dos mesmos e daqueles que neles vivem, rendidos a uma força laboral cujos frutos pouco ou nada serão conhecidos e satisfatórios e levando-os a um desespero que - vivido nesse mesmo silêncio -, terá um fim rápido e compreendido. Pela força das suas imagens e pelo desfecho tragicamente tão silencioso como a vida do protagonista, Anteu prima pela capacidade avassaladora com que (se) entrega e rende a uma desgraça humana tão potente como devastadora. Porque a emoção chega mesmo que, tal como o seu protagonista, o faça em silêncio.
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8 / 10
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