Leviano de Justin Amorim (Portugal) é a longa-metragem que encerrou o dia dos Caminhos do Cinema Português que terminam já no próximo Sábado no Teatro Académico Gil Vicente, em Coimbra.
Chegou a entrevista mais esperada do ano em que Anita Paixão (Anabela Teixeira) e as suas filhas Adelaide (Diana Marquês Guerra), Carolina (Alba Baptista) e Júlia (Mikaela Lupu) terão finalmente de revelar os acontecimentos por detrás dos crimes cometidos tempos antes.
A primeira longa-metragem do realizador luso-canadiano não poderia estar repleta de mais brilho; uma família da classe média alta - as "Paixão" - num mundo pleno de dias de Verão, colégios privados, aulas de ténis, festas e onde tudo acontece, tudo é permitido e, no fundo, onde tudo é possível no Algarve de Vilamoura. Mas, como por detrás de todo o brilho em excesso, existe uma origem negra, não tão perfeita e onde segredos inconfessáveis se escondem com a máscara dessa beleza, em Leviano estas personagens também não são tão puras como querem aparentar ser.
O argumento de Justin Amorim parece claro desde os primeiros instantes quando apresenta uma tumultuosa relação entre mãe e filhas, umas a quererem seguir um exemplo de moral e bons costumes que, no entanto, é subitamente interrompido pelo comportamento de outras das jovens irmãs que cedo também se revelam como levianas - outra palavra seria injusta -, mimadas e habituadas a um estilo de vida longe de uma qualquer normalidade familiar... existe sim um certo desdém para com tudo aquilo que, na verdade, todas elas querem... mas não conseguem ser... uma família. Nesta medida aquilo que aqui encontramos é uma imediata ruptura no clã atirando para a incerteza não só as jovens como a mãe que, percebemos desde cedo, está mais preocupada em celebrar os últimos cartuchos da sua já não existente juventude, a qual vive como se fosse... umas das reais jovens. Por outro lado encontramos as irmãs "Paixão" perdidas num abandono não anunciado por uma mãe que quer curtir a vida com o seu namorado - também ele mais jovem -, e que cruzam esse Algarve mais ou menos desconhecido onde reina a praia, a diversão e as noitadas de futebol, sexo, passagens de modelos e uma erotização precoce que... faz parte da dita "normalidade" transformando-as num certo mito de juventude perdida pois terão de encontrar o mundo real mais cedo do que o esperado e revelando um prenúncio de decadência por todo o lado em que passam.
Se esta problemática até poderia ser interessante na medida em que surge como uma análise de muitos comportamentos familiares actuais - não o vamos esconder -, a realidade é que Leviano exibe uma certa aura de Xavier Dolan mas com menos inovação ou dramatização pop que tanto caracterização a obra do realizador canadiano. As influências em Leviano são claras... a constante e sempre intensa música adaptada a momentos tidos como ícones da longa-metragem, a roupa como uma característica de "marca" e sempre algo que acaba por esvoaçar ao vento como que uma libertação do passado, as personagens que se desejam mas que não podem, conseguem ou querem terminar juntas e, finalmente, a eterna personagem LGBT que surge como um comparsa de peso numa história que não se compreende se quer de facto ser original ou se pretende ser uma inovação de luxo no panorama nacional mas seguindo exemplos já garantidos de um cinema de sucesso que também aqui poderia funcionar... se se assumisse desde o primeiro instante como algo que é... de facto... original!
Assim, longe de ser portador de uma total originalidade - é certo que existe a conflituosa relação das mais jovens da família com o mundo ao seu redor que usam e dele abusam para seu imediato prazer - ou mesmo o elemento crime que aqui surge como algo diferente da referida obra do realizador canadiano, Leviano não se destaca por uma total inovação no género não deixando, no entanto, de ser uma simpática obra ligeira, estival até, capaz de atrair um público mais jovem ao cinema muito também graças a toda uma nova geração de actores e actrizes conhecidas dos mesmos e capta alguns momentos e sequências bem passadas onde se recupera também algum do imaginário dos '80's nacional que tanta nostalgia provoca a uma geração parental... eventualmente mais perdida ou saudosista desses seus idos anos mais jovens.
Para além do óbvio destaque de uma sempre inspirada Anabela Teixeira como a mãe fútil que quer viver e gozar a sua vida, é a presença de Diana Marquês Guerra e Alba Baptista que se destacam nesta longa-metragem... A primeira como o rosto protagonista de uma história na qual se encaixa na perfeição e a segunda como a confirmação absoluta de uma jovem grande actriz que certamente nos irá garantir (mais) intensos desempenhos num futuro próximo. E se encontramos aqui secundários de peso como o são José Fidalgo - também concentrado em seduzir alguém mais novo como garante da sua eterna juventude... um pouco ao estilo de Dorian Gray - ou Pedro Barroso numa breve mas intensa interpretação, são pequenos apontamentos técnicos como a direcção artística ou a inspirada direcção de fotografia de Edward Herrera que capta as cores de um Algarve estival que transformam Leviano numa longa-metragem a observar com atenção e que deixam a compreensão de que o seu conteúdo poderia ter ido um pouco mais longe do que aquilo que acabou por ser.
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