Pele de Luz de André Guiomar (Portugal/Moçambique) é uma das curtas-metragens presentes na competição oficial deste segundo dia do Caminhos do Cinema Português.
Neste documentário curto o espectador conhece Anifa e Isa, duas irmãs albinas que sobrevivem em Moçambique onde a crença de que a cor da sua pele é um factor de diferença da demais população.
Numa altura em que tanto discutimos sobre as diferenças visíveis que a dita "cor de pele" exibe, o documentário de André Guiomar reflecte, por sua vez, sobre algo mais vasto e relevante como o é a eterna busca pela identidade e como esta define a personalidade do indivíduo quando ambos são uma consequência directa de um passado vivido. No entanto, é aqui que surge a grande questão das duas protagonistas desta história na medida em que as irmãs sentem-se, elas próprias, diferentes da realidade da comunidade em que estão inseridas. Comunidade essa que, por sua vez, é também ela adversa e resistência à diferença que ambas exibem devido ao albinismo. Assim, e numa questão de identidade, em que realidade se inserem quando parecem não correspondem ao grupo onde residem?
Assim, nesta comunidade que ainda se rege pelas tradições sociais e religiosas tribais onde o "diferente" pode ser considerado como "bruxo" ou "feiticeiro" e, como tal perigoso, existirá possibilidade de sobrevivência e crescimento quando as próprias protagonistas são (foram) alvo de rapto e de uma certa ostracização social que as coloca nas margens da própria sociedade?
Das visitas à Igreja que tão fervorosamente defendem como um factor de inserção na referida sociedade e que a ajuda a aceitar que a sua diferença não a irá tornar diferente aos breves momentos que a câmara partilha da sua estada na escola na qual se discutem as questões centrais desta história... passado... identidade... personalidade e a directa consequência de umas nas outras ou como todas definem o indivíduo neste presente que vivem fazem deste documentário uma aliciante e instrutiva obra sobre as diferenças entre sociedade e comunidade e como cada um de nós se poderá nelas inserir como "um dos seus".
Pele de Luz, com o seu ligeiro mas seguro passo lança portanto pertinentes questões sobre o indivíduo, tantas vezes difíceis de se responder, mas com base nessa premissa da diferença tão silenciosamente presente lança a questão fundamental deste e de tantos outros documentários ou questões identitárias... Poderá a imagem definir a identidade e, como consequência, a própria personalidade ou sentimento de pertença a um grupo? Com a solução bem presente mas capaz de ser interpretada por cada espectador de forma individual e diferente, Pele de Luz responde com clareza a esta questão quando a protagonista esclarece que "a sua diferença não a irá tornar diferente" deixando para trás todos os preconceitos que a sociedade ou os seus membros possam sentir para a exclusão... do "outro".
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