sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Razão Entre Dois Volumes (2018)

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Razão Entre Dois Volumes de Catarina Sobral (Portugal) é uma das animações presentes na competição oficial da XXIVª edição dos Caminhos do Cinema Português que termina já amanhã no Teatro Académico Gil Vicente, em Coimbra.
Qual a verdadeira diferença entre cheio e vazio? O que os distingue? O que os faz únicos? Numa animação iremos descobrir aquilo que os opõe e aproxima.
O argumento de Catarina Sobral parece, inicialmente, não querer apontar para um rumo certo que de facto identifique tudo o que surge na premissa sobre a tal "diferença" mas, no entanto, é com a proximidade do final que a mesma não só é revelada como surge como um certo elemento desarmante para o espectador que consegue, facilmente, encontrar semelhanças com a sua própria realidade. Afinal... do que falamos?!
São apresentadas duas personagens fisicamente idênticas... um deles, o "Cheio", é uma personagem que tem a capacidade de nada esquecer ligando de forma indissociável todos os seus pensamentos não conseguindo em instante nenhum encontrar uma tranquilidade. Sente o amor e a solidão com a mesma intensidade ao ponto de poder ter de evitar as pessoas para não encontrar nelas mais motivos para a saturação dos seus pensamentos. O "Cheio" consome-se rapidamente pelo exacerbar de todos os comportamentos aos quais é exposto e tudo, sem excepção, é algo que consome como pessoal e directo. Por sua vez temos o "Vazio", alguém que nada sente, a quem nada afecta sem qualquer manifestação de pessimismo ou negativismo e que, dessa forma, passa pela mundo sem que aquilo que se encontra à sua volta seja realmente importante.
É nestes dois manifestos opostos que, no entanto, sem se cruzarem vivem a exposição de um interessante fenómeno quando os seus comportamentos se alteram passando um a vivenciar aquilo que o outro sente e, por sua vez, aquilo que o próprio não sente. Quando os comportamentos se alteram e se revelam como feitos de uma mesma massa que, afinal, pode estar sujeito a transformações quando a exposição é intensiva... um por tudo experimentar começa a ter medo... o outro, por tudo fazer, não sente nada. Assim, é esta dinâmica de excessos e de opostos que se manifesta em ambos como os motores para a sua transformação pessoal e por consequência, social, revelando que por muito distantes que inicialmente se possam apresentar o "eu" e o "outro" não serão assim tão distintos... basta a influência (ou falta dela) certa para que os comportamentos se revelem... tudo depende, afinal, da exposição.
Interessante e revelador pela forma como expõe as diferenças e os comportamentos sociais do indivíduo em grupo ou na sua ausência bem como pela forma inteligente com que expõe o seu argumento, Razão Entre Dois Volumes mais não é, afinal, do que uma sentida reflexão sobre o indivíduo, sobre aquilo que o motivo ou, por outro lado, sobre os incentivos que lhe faltam e que o transformam num ser que se limita a passar pelo meio sem nele deixar ou receber qualquer influência.
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