O Segredo da Casa Fechada de Teresa Garcia (Portugal) é a última das curtas-metragens apresentadas no Teatro Académico Gil Vicente no primeiro dia do Caminhos do Cinema Português, numa história onde, junto a um cais, duas irmãs observam as misteriosas luzes que todas as noites observam na casa abandonada em frente à sua. Existirão fantasmas que se manifestam naquela casa a querer comunicar com quem os observa?
Na pacatez de um qualquer meio marítimo que mais parece esquecido pelo tempo e pelas próprias pessoas que nele habitam, a vida deve-se apenas à imaginação de duas crianças cuja curiosidade não as faz ignorar os pequenos fenómenos que ocorrem mesmo "ali ao lado". "Ana" e "Matilde" transformam-se assim - graças ao argumento também escrito pela própria realizadora -, nas inesperadas aventureiras dentro de um mundo de adultos que parecem não existir. Serão elas os fantasmas, pergunta-se frequentemente o espectador que vai habitando neste limbo de incertezas apenas quebrados uma única vez quando se vislumbra um adulto capaz de responder às suas (e nossas) questões que se acumulam como todas as incertezas típicas de duas crianças cuja tutela... nunca se conhece.
A certa altura a realizadora transforma esta história num conto assombroso... dos vultos à potencial residência de criminosos que se escondem das mãos da lei passando pela simples imaginação que tantas vezes dá frutos para lá do esperado, não só a casa parece "respirar" e ter uma alma que tarda em se fazer notar como também a direcção de fotografia de Acácio de Almeida contribui para esta dinâmica de incertezas ao dar relevo às sombras e às luzes dispersas de uma casa que... ninguém sabe o que esconde.
Cativante pela dinâmica de incertezas que consegue criar desde cedo, a curta-metragem de Teresa Garcia perde-se um pouco pela lenta exposição de uma história que poderia ter sido resolvida mais cedo ou, por outro lado, dar origem a um conto mais extenso onde os fenómenos pudessem ser explorados, mistificados e até mesmo desvendados na medida da manutenção da incerteza - palavra-chave deste conto - da vida para lá da vida. Desconhecedor do que se passa numa história que vive da dinâmica das duas irmãs com o espaço, é o próprio que se manifesta como um elemento fundamental desta dinamização obrigando esse espectador a recordar a sua própria infância e equacionar todos os pequenos grandes locais que lhe pareciam (então) como detentores de mistérios nunca decifrados. No entanto, nada como um bom mistério... mas um que aqui se pudesse desvendar para lá do óbvio que todos os filmes do género frequentemente apresentam... já o observámos em Los Otros (2001), de Alejandro Amenábar e aí a surpresa resultou na perfeição... O Segredo da Casa Fechada demonstra esse potencial nunca chegando, no entanto, a concretizá-lo.
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6 / 10
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