quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Fernando que Ganhou um Pássaro do Mar (2013)

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Fernando que Ganhou um Pássaro do Mar de Felipe Bragança e Helvécio Marins Jr. é uma curta-metragem luso-brasileira de ficção na qual Fernando - o protagonista - divide o seu dia entre o café de bairro e a sua pequena casa na cidade do Porto. No entanto, a sua solidão é um dia assombrada por um inesperado presente que o faz imaginar o paraíso... no Brasil.
Os realizadores e argumentistas desta curta-metragem criam, através de um conto imaginado e simbólico, um retrato de duas nações irmãs na actualidade. De um Portugal mergulhado numa austera crise económica e financeira a um Brasil em plena expansão económica, o espectador observa dois países sonhados mas perdidos num certo delírio com consequências incertas.
Enquanto no Portugal da actualidade se sentem os dias amargos desta mal-fadada crise onde prolifera a incerteza sobre o futuro, um acentuar de notícias sobre o desemprego, a perda de casas que se tornam em fantasmas abandonados, registos de sucessivas insolvências, acumular de dívidas e falta de trabalho, o espectador observa, ao mesmo tempo, um Brasil imaginado onde a Natureza, o mar, o samba e um ideal de progresso se misturam harmoniosamente contrariando as duras vivências do passado.
Enquanto um país parece viver uma experiência alucinante com os excessos provocados pela opulência como que num paraíso imaginado mas não real, o outro parece definhar com o retrocesso anunciado e a carência generalizada. Estarão ambos a viver as suas realidades ou, por sua vez, um sonho fruto de uma overdose de situações?
Do Brasil é enviado um presente... um papagaio... símbolo do tropical agora em excessos. Algo que dê um certo imaginário àqueles que, do outro lado do Atlântico, parecem definhar com a austeridade resultado de anos de (des)governo. Dois paraísos adiados? Pelo meio o espectador encontra Fernando... um homem como tantos outros, numa vida de solidão afectiva - a primeira crise - e agora também uma crise financeira que afecta todos cada um à sua própria e especial maneira. Numa solidão sentida e sofrida, "Fernando" é o retrato de um homem comum... Um homem que entre tantos outros passa os seus dias sem saber onde ir ou o que fazer. Uma solidão que se reflecte e sente a cada dia que passa de uma forma mais acentuada deixando-o cada vez mais isolado no seu próprio espaço e com cada vez menos afazeres ou razões para "viver".
Místico, mas ainda não mítico, Fernando que Ganhou um Pássaro do Mar acaba por ser mais um dos filmes sentidos de uma crise que se instala cada vez com mais força e peso - sem que felizmente isso afecte a criatividade mas sim (apenas) a forma como esta é posta à prova - colhendo aqueles em quem toca... primeiro pelo exponenciar da sua já eventualmente sentida solidão e finalmente por isolar o Homem num beco do qual parece não ter saída.
Desgovernado pelo seu desnorte social, Fernando que Ganhou um Pássaro do Mar é assim uma curta-metragem que tenta em certa medida apresentar dois países que vivem situações distintas sendo que, no entanto, parecem ambos viver num certo paraíso - ou limbo - imaginado onde um não pensa no que pode ainda vir a perder e o outro no excesso daquilo que pode obter.
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7 / 10
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