quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Verona (2013)

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Verona de Marcelo Caetano é uma curta-metragem brasileira de ficção presente na respectiva secção competitiva da décima-oitava edição do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Elias (Marcia Pantera) viaja para o interior do Brasil para visitar Walter (Germano Melo) com quem fez parte do grupo musical Verona dez anos antes. Walter prepara o seu casamento com Filipe (Guto Nogueira), e vive num misto de fim da pós-adolescência e entrada numa idade adulta onde chegam igualmente todas as obrigações de uma vida onde os dias passam a um ritmo alucinante.
Marcelo Caetano e Hilton Lacerda assinam um argumento que transporta o espectador para um cenário que muito se aproxima de um purgatório natural. Aquele espaço que tanto parece perdido no tempo, isolado de qualquer sinal de civilização mas que, ao mesmo tempo, parece idílico é o local ideal para que um não completo "Walter" possa reflectir no presente sobre a sua vida passada e futura. Reflexão essa que se torna quase obrigatória com a presença de "Elias", o rosto mais evidente do seu passado que se percebe ter ficado por cumprir independentemente de nunca se tornarem claros para o espectador os "porquês".
Enquanto uns evoluem - ou pelo menos avançam - nas suas vidas, outros ficam parados no tempo à espera que algo aconteça... algo que os motive, que os faça acordar e despertar para uma estranha e também ela distante realizade, acabando por ficar à mercê da passagem do tempo que não perdoa nem se esquece de nenhum local estando sempre em constante evolução, mudança e transformação.
É rosto dessa passagem to tempo "Elias" que tendo assumido a seu tempo a iniciativa pela mudança volta a surgir na vida de "Walter" que o encara como o símbolo de tudo aquilo que ele não chegara a concretizar. O símbolo de todas as transformações que ficaram por confirmar e de uma evolução que, na prática, nunca chegou tendo sido substituída por algum conformismo e resignação.
No meio de todas estas mudanças é "Filipe" que se assume como a potencial porta de escape de uma rotina à qual "Walter" se entregou e que através dele poderá finalmente, anos depois de uma vida em perfeito marasmo, encontrar um novo rumo com o qual se possa sentir finalmente completo.
Todo este argumento que gira em torno de uma mudança - ou das várias mudanças - que atravessamos e que nem sempre são reconhecidas encontra uma redenção já bem perto do final quando não só as suas personagens principais finalmente aceitam que o seu tempo passou e que é agora o tempo de encontrar um novo rumo, como também o tal purgatório onde esperavam ter o seu sossego - "Walter" no interior brasileiro e "Elias" através de uma carreira profissional no estrangeiro - se transforma finalmente naquele local ao qual poderão chamar casa.
Verona tem ainda um grande factor a seu favor através da direcção de fotografia de Andrea Capella que capta uma interessante luz - quase celestial - que exponencia esse clima de purgatório (ou pelo menos a sua essência) e que transformam inicialmente todo o ambiente natural num local de perdição e finalmente num espaço que se revela como um inesperado lar.
Intensa, mas tranquila, é também a dinâmica entre Germano Melo e Marcia Pantera que através da sua próxima distância e confronto geográfica - entre ambos - denotam uma química natural que faz mover os destinos das personagens que encarnam e que dá uma apelativa e sedutora vida a toda esta inteligente história fazendo de Verona um dos mais bem sucedidos filmes curtos de toda a competição.
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8 / 10
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