Água para Tabatô de Paulo Carneiro é um documentário português em formato de curta-metragem que inicia a sua acção após uma viagem para África, mais concretamente para a Guiné-Bissau, onde o realizador se preparava para a produção de outro filme enquanto primeiro assistente.
Depois de um início onde assistimos a alguns pequenos contratempos com a embarcação onde seguem, o próprio espectador segue para aquilo que se esperava ser uma viagem tranquila de duas horas até que inesperadamente o barco pára.
Parados no meio do oceano num espaço limitado, com pouca luz e uma embarcação cheia de pessoas, o espectador começa a questionar-se sobre os destinos daquelas almas que se encontram a uma distância suficientemente longe da costa para puderem conseguir rápida e seguramente instalar-se em terra.
Se pensarmos que o tempo passa rápido demais facilmente poderíamos equacionar que horas de espera mais não seriam do que o tempo ideal para pôr uma boa conversa em dia e contar umas quantas anedotas mas, no entanto, quando esse mesmo tempo é passado dentro de uma embarcação em alto mar e com a percepção de que a costa está "mesmo ali" sem que se a consiga vislumbrar, então Água para Tabatô assume-se como uma experiência de um crescente pânico onde todos os pequenos grandes medo do nosso subconsciente começam a tomar conta do lado racional de qualquer um. Nos minutos em que decorrem estas filmagens devidamente editadas, mas que representam algumas horas, o espectador sente um crescendo de tensão e todo um transtorno e impaciência que povoam as almas daqueles que se encontram naquele barco, tensão essa que aumenta exponencialmente quando o mesmo começa a ser "invadido" pelas águas do Atlântico deixando-os numa maior incerteza sobre o seu futuro.
Apesar de algum pânico que se instala, e sem uma evidente confusão, todos parecem aguardar com tranquilidade. Talvez uma tranquilidade como de alguém que tem a morte como certa e que, como tal, já a aceitou. A confusão essa apenas se instala quando os escassos barcos surgem através da escuridão para transportar os passageiros para terra salvando-os assim de um barco já meio submerso.
É talvez este o momento mais intenso para o espectador que na ausência de imagens claras - impossíveis de obter uma vez que nos "encontramos" no mar - sobre aquilo que está ao seu redor inicia a sua própria sensação de aflicção e de claustro ao não detectar qual a sua real condição ou os meios que tem para poder escapar a algo que é neste momento uma certeza.
O facto mais curioso de Água para Tabatô reside então no facto do seu realizador se manter activo desde o primeiro instante face a um momento que inicialmente não era preocupante mas que aos poucos se transforma numa aparente tragédia silenciosa onde o pânico, apesar de controlado, se sentir em todos os instantes principalmente quando os tripulantes daquele barco que vão sendo salvos desaparecem na escuridão da noite deixando para trás os demais face a um destino incerto.
Interessante é, e talvez um dos aspectos mais importantes de todo o considerando que nele se baseia uma grande parte da mensagem transmitida ao espectador, é a sua captação de som. Água para Tabatô é, na sua essência, um documentário que para além de grandes imagens ou factos transmitidos visualmente, um filme que se centra quase exclusivamente nos diálogos e nos sons ou ruídos que escutamos vindos de uma maior distância. Sons esses que contribuem para fazer chegar a mensagem ao espectador não só dos acontecimentos como do estado de espírito daqueles que por eles atravessam.
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7 / 10
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