José Combustão dos Porcos de José Magro é uma curta-metragem portuguesa de ficção onde é narrada a história de José (Tiago Nogueira Madureira), um rapaz que desconhece as suas origens paternais. Cresceu a ser apontado pelos outros miúdos e em adulto (Gilberto Oliveira), transformou-se no mito da aldeia... o homem dos porcos.
Num estilo de narração monocórdico em que o espectador acompanha, a passo muito curto, as vivências de "José", José Combustão dos Porcos é uma curta-metragem que muito se aproxima do tradicional conto popular no qual as diferenças individuais cedo se transformam em sinónimos de exclusão e de transformação daquele que é "diferente" no mito urbano que todos teimam em apontar, evitar e esquecer. A tal lenda dos pequenos lugarejos de um interior profundo que se transformam em certezas desconhecidas e nunca questionadas.
Num argumento que é, também ele, da autoria de José Magro, José Combustão dos Porcos é aquele típico filme que dá corpo às velhas tradições orais que se perpetuam no imaginário colectivo e que fazem das suas características personagens - ou pessoas reais - aqueles habitantes estranhos que todos tentam evitar desconhecendo, na realidade, o porquê de tal ostracização.
"José" é esse indivíduo. De pai incerto ou desconhecido, foi habituado desde jovem idade a ser o motivo dos risos e dos segredos das outras crianças que o olhavam como um ser bizarro, diferente, improvável e, como tal, aquele que deveriam evitar. Afastado de uma vivência normal para uma criança, "José" cresceu como o homem dos porcos. Aquele que nasceu do fogo da queima dos suínos, facto que lhe granjeou a sua alcunha.
A sua mãe sempre evitou falar sobre o assunto. Aliás, o espectador apenas retém aquelas pequenas informações de um "José" já adulto que se deixa levar de encantos por uma prima (Joana de Viana) e daí concluir que o seu - da sua mãe - segredo seja a eventual relação incestuosa que a deixou grávida. Num meio pequeno onde tudo e todos se conhecem, nada melhor do que se deixar levar pelos mitos populares e pelo factor místico que lhe poderiam atribuir do que ceder à boca do povo numa história de amor/abuso incestuoso que lhe deu vida.
"José" nasceu da queima dos porcos. "José" ganhou assim o seu nome. "José Combustão dos Porcos". Perdida a mãe numa manhã... "José" fica apenas como o registo de um mito e de uma superstição popular que o tornam (in)voluntariamente diferente fruto de uma magia desconhecida.
José Magro cria com José Combustão dos Porcos uma estranha atmosfera que nunca abandona o místico, a incerteza, a suspeita e o típico ambiente de um conto/mito popular que deixa uma margem significativamente livre para que o espectador tire as suas próprias conclusões sobre aquilo que vê... De incesto a magia... De incertezas a mitos... Do tradicional à racionalidade do urbano, José Combustão dos Porcos vive num espaço à parte da realidade onde as certezas não existem dando lugar à tradição oral cheia de certezas incertas, de medos e de suspeições.
Com uma intensa direcção de fotografia de André Guiomar e uma direcção de arte da autoria de Simone Almeida que transformam - em conjunto - todo o ambiente de José Combustão dos Porcos num filme com uma atmosfera carregada muito característica que em muito se assemelha - como comparação - a ler um livro de contos populares e todos os seus mistérios e uma segura interpretação de Gilberto Oliveira que graças à sua forte dramatização se transforma num dos mais intensos elementos desta curta-metragem.
É na diferença - tal como a de "José" - que reside a magia... E é dessa que sobressai - ainda que não o elemento "real" - toda a dinâmica e intensa atmosfera de José Combustão dos Porcos.
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8 / 10
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