The Guest de Adam Wingard é uma longa-metragem norte-americana presente na secção Serviço de Quarto do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa que decorre no Cinema São Jorge, em Lisboa e aquela que seguramente definiu a excelência durante o festival.
David (Dan Stevens) chega a casa dos Peterson e apresenta-se como um dos amigos do seu filho morto em combate. Após uma calorosa recepção por parte de todos que se sentem imediatamente atraídos pela sua boa aparência e charme, os Peterson desabafam sobre os inúmeros e banais problemasdo dia-a-dia que os atormentam. Aos poucos, e sem se aperceberem, as suas vidas começam a melhorar ao mesmo tempo que ocasionais mortes ocorrem pela cidade.
Anna (Maika Monroe) que nutre por ele uma quase imediata atracção e Luke (Brendan Meyer) que vê em David um exemplo a seguir, vivem num misto de (des)confiança na sua presença que muito rapidamente se revela tão atractiva ou destruidora.
O argumento de Simon Barrett leva-nos assim numa intensa viagem que apenas poderia ganhar vida à custa das mãos de Adam Wingard - o mentor do intenso e colorido You're Next que encerrou a edição anterior do MOTELx - e transformando-a não num thriller pesado e com o qual ficamos de certa forma destroçados mas sim uma história de vingança moderna onde as vítimas se tornam indiferentes ao olhar do espectador que é facilmente conquistado pelo inesperado vilão. "David", numa magnífica interpretação de Dan Stevens, aos poucos e com o seu ar de sedução, conquista não só pela aproximação a um perigo que se torna por demais evidente mas que, ao mesmo tempo, relembra que quer ser experimentado e vivido enquanto tece um percurso que é, ao mesmo tempo, de uma justiça nem sempre cumprida como podemos constatar nos segmentos passados no liceu de "Luke" que passa de uma inesperada vítima de bullying num justiceiro por simpatia.
É este mesmo sentido de justiça que se faz sentir por todo o filme. Pouco sabemos do real passado de "David" que apenas se apresenta como uma máquina de matar perfeita, que sem sentimentos ou remorssos, faz vingar a sua vontade independentemente de a quem possa atingir pelos seus aspectos mais negativos. Sabemos que o seu conturbado passado o tornou naquilo que nos é apresentado e que todos receiam quais as suas acções pois nada - nem ninguém - o consegue, ou as conseguem, controlar. Sabemos que tudo fará para ultrapassar qualquer iminente barreira ou obstáculo e que enquanto ninguém questionar os seus propósitos está seguro a seu lado... No entanto, é aquele eterno "mas" que fica atrás da orelha que lance o mote para todo um escalar de violência que ainda está por chegar. Sem qualquer piedade "David" elimina todas as provas da sua própria existência nem que isso signifique "despachar" alguns daqueles com quem acabou por criar alguns improváveis laços. A referida justiça por detrás dos seus actos reside na sua vontade extrema de sobrevivência que fora (talvez) proibida noutros tempos que não conhecemos.
É a mesma noção de justiça que está por detrás daqueles que ele conhece... "Laura" (Sheila Kelley), a mãe inconsolável com a morte de um filho que não voltará a ver, "Spencer" (Leland Orser), o pai frustrado com a inexistente progressão da sua carreira ou oportunidades que dela poderiam resultar, "Anna" vítima de um namoro quase indiferente e algo tenso ou mesmo "Luke", a eterna vítima de bullying num liceu onde não passa de uma marca inexistente. Uma justiça que é apenas conseguida graças à presença de um elemento estranho, de quem ninguém nada sabe, e em quem toda aquela família deposita uma confiança extrema como se inconscientemente sentisse um talismã de segurança. O que acontece naquele exacto momento em que tudo de bom surge na vida? O que acontece quanto esse lado positivo tem um preço... preço esse alto demais para poder ser pago? Será realmente justiça ou apenas uma consequência de sucessivos factores que se desencadeiam como uma bola de neve? Querem(os) ser realmente os seus receptores quando surgir a altura de se confrontarem com a dura realidade e perceber que tudo está para além da sua compreensão?!
Intenso pela sua acção, ritmo, direcção musical de Steve Moore e direcção de fotografia de Robby Baumgartner que dá vida a um tenso cenário geograficamente desértico e perdido no tempo, The Guest é o filme mais descontraído daquilo que prevejo ser todo o certame que, até à data, precisava deste filme como a edição do ano anterior precisava de Cheap Thrills, de E. L. Katz. E ainda que provavelmente uma sequela fosse arruinar o sentido deste filme, quem de nós não gostaria de saber os reais destinos de "David" e daqueles que lhe sobrevivem?
.David (Dan Stevens) chega a casa dos Peterson e apresenta-se como um dos amigos do seu filho morto em combate. Após uma calorosa recepção por parte de todos que se sentem imediatamente atraídos pela sua boa aparência e charme, os Peterson desabafam sobre os inúmeros e banais problemasdo dia-a-dia que os atormentam. Aos poucos, e sem se aperceberem, as suas vidas começam a melhorar ao mesmo tempo que ocasionais mortes ocorrem pela cidade.
Anna (Maika Monroe) que nutre por ele uma quase imediata atracção e Luke (Brendan Meyer) que vê em David um exemplo a seguir, vivem num misto de (des)confiança na sua presença que muito rapidamente se revela tão atractiva ou destruidora.
O argumento de Simon Barrett leva-nos assim numa intensa viagem que apenas poderia ganhar vida à custa das mãos de Adam Wingard - o mentor do intenso e colorido You're Next que encerrou a edição anterior do MOTELx - e transformando-a não num thriller pesado e com o qual ficamos de certa forma destroçados mas sim uma história de vingança moderna onde as vítimas se tornam indiferentes ao olhar do espectador que é facilmente conquistado pelo inesperado vilão. "David", numa magnífica interpretação de Dan Stevens, aos poucos e com o seu ar de sedução, conquista não só pela aproximação a um perigo que se torna por demais evidente mas que, ao mesmo tempo, relembra que quer ser experimentado e vivido enquanto tece um percurso que é, ao mesmo tempo, de uma justiça nem sempre cumprida como podemos constatar nos segmentos passados no liceu de "Luke" que passa de uma inesperada vítima de bullying num justiceiro por simpatia.
É este mesmo sentido de justiça que se faz sentir por todo o filme. Pouco sabemos do real passado de "David" que apenas se apresenta como uma máquina de matar perfeita, que sem sentimentos ou remorssos, faz vingar a sua vontade independentemente de a quem possa atingir pelos seus aspectos mais negativos. Sabemos que o seu conturbado passado o tornou naquilo que nos é apresentado e que todos receiam quais as suas acções pois nada - nem ninguém - o consegue, ou as conseguem, controlar. Sabemos que tudo fará para ultrapassar qualquer iminente barreira ou obstáculo e que enquanto ninguém questionar os seus propósitos está seguro a seu lado... No entanto, é aquele eterno "mas" que fica atrás da orelha que lance o mote para todo um escalar de violência que ainda está por chegar. Sem qualquer piedade "David" elimina todas as provas da sua própria existência nem que isso signifique "despachar" alguns daqueles com quem acabou por criar alguns improváveis laços. A referida justiça por detrás dos seus actos reside na sua vontade extrema de sobrevivência que fora (talvez) proibida noutros tempos que não conhecemos.
É a mesma noção de justiça que está por detrás daqueles que ele conhece... "Laura" (Sheila Kelley), a mãe inconsolável com a morte de um filho que não voltará a ver, "Spencer" (Leland Orser), o pai frustrado com a inexistente progressão da sua carreira ou oportunidades que dela poderiam resultar, "Anna" vítima de um namoro quase indiferente e algo tenso ou mesmo "Luke", a eterna vítima de bullying num liceu onde não passa de uma marca inexistente. Uma justiça que é apenas conseguida graças à presença de um elemento estranho, de quem ninguém nada sabe, e em quem toda aquela família deposita uma confiança extrema como se inconscientemente sentisse um talismã de segurança. O que acontece naquele exacto momento em que tudo de bom surge na vida? O que acontece quanto esse lado positivo tem um preço... preço esse alto demais para poder ser pago? Será realmente justiça ou apenas uma consequência de sucessivos factores que se desencadeiam como uma bola de neve? Querem(os) ser realmente os seus receptores quando surgir a altura de se confrontarem com a dura realidade e perceber que tudo está para além da sua compreensão?!
Intenso pela sua acção, ritmo, direcção musical de Steve Moore e direcção de fotografia de Robby Baumgartner que dá vida a um tenso cenário geograficamente desértico e perdido no tempo, The Guest é o filme mais descontraído daquilo que prevejo ser todo o certame que, até à data, precisava deste filme como a edição do ano anterior precisava de Cheap Thrills, de E. L. Katz. E ainda que provavelmente uma sequela fosse arruinar o sentido deste filme, quem de nós não gostaria de saber os reais destinos de "David" e daqueles que lhe sobrevivem?
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