Late Phases de Adrián García Bogliano é uma longa-metragem norte-americana presente na oitava edição do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa que teve como sua sede principal o Cinema São Jorge.
Quando Ambrose McKinley (Nick Damici) chega a Crescent Bay numa mudança forçada pelo seu filho (Ethan Embry), longe estaria de imaginar que as noites da tranquila comunidade fossem assoladas pela presença de estranhos eventos que dizimavam alguns dos seus habitantes locais.
No entanto, é o feitio pouco social e personalidade agressiva de Ambrose que curiosamente o colocam a salvo quando se torna evidente a natureza dos ataques e o sinistro segredo que a comunidade esconde.
O argumento de Eric Stolze transporta no seu íntimo uma interessante e agradável reminiscência de Silver Bullet, de Daniel Attias (1985) - conhecido por cá como O Segredo da Bala de Prata - onde a tal pequena e pacata comunidade sofrem nas mãos de um desconhecido e quase "impossível" assassino que não só tem prazer nos actos que comete durante a noite como está "protegido" pela cordialidade que a sua máscara diurna lhe conferem.
Assim, isento de um factor de grande originalidade, Late Phases sobrevive graças ao seu protagonista que se apresenta como o improvável herói de serviço. À semelhança de Silver Bullit onde ninguém arriscaria acreditar na veracidade das palavras de "Marty Coslaw" (Corey Haim), um jovem dado a uma imaginação muito fértil, em Late Phases ninguém está disposto a dar crédito às palavras de "Ambrose", um veterano de guerra amargo e cuja vida apenas se tem destacado pelo seu lado agressivo e anti-social.
Mas não é apenas este lado marginal dos seus comportamentos que aproxima os dois protagonistas ou tão pouco sobre quem recaem as suspeitas de tão duvidosos comportamentos. Começando pelo suspeito principal, é curioso verificar como em ambas as obras é a referência máxima da comunidade que se torna o principal suspeito - o padre - uma figura pacata e que surge como exemplo da mesma mas que devido ao seu comportamento excessivamente simpático faz levantar a primeira suspeita. Confirmando-se ou não o seu envolvimento - o espectador vai aguardando pela certeza - não é menos verdade que os protagonistas e heróis - ou anti-heróis - de Silver Bullit e de Late Phases têm algo que os une e que condiciona - ou não - a sua própria sobrevivência. Se é verdade que "Marty Coslaw" é um jovem cuja mobilidade depende do uso de uma cadeira de rodas incapacitando-o de fugir sempre que o perigo espreita necessitando portanto de se refugiar nos artifícios naturais com que se depara (as pontes nunca foram tão assustadoras), em Late Phases tem um "Ambrose" invisual que sente o perigo e que necessita, também ele, de recorrer aos seus sentidos para garantir a sua sobrevivência face a um perigo iminente.
Com um tio presente e crédulo, "Marty Coslaw" é um jovem com quem o espectador cria uma natural empatia sendo que, por sua vez, "Ambrose" é um homem solitário, amargo e que apenas se destaca por ser um tipo agressivo e instável com quem todos tentam mas com o qual ninguém se quer cruzar ou partilhar cinco minutos de conversa. Assim, no meio de um Verão aparentemente tórrido e onde os humores e a paciência se testam a cada instante, o perigo espreita nas longas noites onde todos se assumem como potenciais agressores - e vítimas - e dos quais se suspeita que ninguém sobreviverá. "Ambrose" está sózinho... sem família por perto ou amigos em quem confiar, a sobrevivência depende apenas do seu treino militar e da confiança que ainda deposita nos seus instintos. Conseguirá ele resistir àquela que poderá ser a "última noite"?
Nick Damini tem uma interpretação credível e feita à sua medida. A sua encarnação enquanto "Ambrose" consegue - por muito rude que se torne - criar empatia com o espectador e ainda que por momentos não acreditemos na sua sobrevivência, sabemos que esteve à altura da luta - de vários intervenientes - com que se deparou. E se considerarmos a quantidade de interessantes e invulgares vizinhos com quem tem de se cruzar, por muito rude que se apresente tem a nossa natural simpatia tornando-se o principal elemento desta obra que ressuscita o género de forma bem positiva mas que peca por não lhe conseguir introduzir novos elementos que a façam distanciar dos inúmeros títulos que habitaram o imaginário colectivo dos fãs do mesmo na passada década de 80.
.
.
6 / 10
.
Sem comentários:
Enviar um comentário