Se o Dia Chegar de Pedro Santasmarinas é uma curta-metragem portuguesa de ficção e uma das treze finalistas ao Prémio MOTELx de Melhor Curta-Metragem Portuguesa de Terror nesta oitava edição do festival de cinema internacional de terror de Lisboa que decorreu até ao passado dia 14 no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Matilde (Adriana Sá) e João (Filipe Vargas), o seu pai percorrem uma floresta rumo ao desconhecido. Aos poucos percebemos que este mundo mais não é do que uma recordação daquilo que em tempos fora ao encontrar-se povoado por mortos-vivos que os perseguem.
Conseguirá a miragem desta família resistir a um mundo onde as adversidades espreitam por todos os recantos?
Ainda que inserido num universo apocalíptico onde a morte e os mortos-vivos imperam, o argumento da Santasmarinas e de Inês de Castro faz com que Se o Dia Chegar se distancie deste mundo mantendo-o apenas como um pano de fundo para uma história que se pretende ter enquanto um relato sobre a sobrevivência, sobre a união mas principalmente sobre o poder da despedida entre duas pessoas que partilham um importante elo familiar.
Num ambiente que nos remete para um total isolamento do mundo, ou pelo menos do mundo conforme o conhecemos, Se o Dia Chegar tem ainda uma interessante excelência na sua direcção de fotografia, da autoria de Raul Sousa, que nos transporta em alguns segmentos para o imaginário e para a memória compostos pelas recordações que adquirimos ao longo dos tempos e que, de certa forma, recorrem aos conselhos e experiências que adquirimos ou nos foram transmitidos ao longo do tempo.
É nestes mesmos momentos que o espectador adquire mais alguns conhecimentos sobre o que se passou na vida recente da jovem "Matilde" e os elementos que a levaram a encontrar-se ainda como uma sobrevivente num espaço e num tempo tão adversos, e especialmente a relação que mantinha com o seu pai - num inspirado registo de Filipe Vargas - que se constata na recordação que esta tem de uma última conversa que não só servia de alerta como de certa forma de uma sentida e emocionada despedida entre ambos.
No final, Se o Dia Chegar coloca-nos ainda uma interessante questão ao obrigar-nos a pensar sobre o que fazer quando aparentemente já nada faz sentido e toda a existência mais não é do que uma penosa experiência que nos faz aproximar de um abismo onde nenhuma resposta é satisfatória. São estes acontecimentos trágicos que "Matilde" vive e que transformam esta curta-metragem num filme diferente do habitual colocando questões até então não exploradas e um desfecho confirmado para as duas personagens principais apesar da temática de fundo estar já um pouco explorada.
Curioso é ainda o facto de Santasmarinas regressar à temática zombie após o seu último trabalho Zombies4Kids no qual, tal como em Se o Dia Chegar, entrega através das suas personagens centrais, um olhar mais juvenil mas igualmente consciencioso sobre o fim, a morte e a despedida contrariando a habitual perspectiva mais "adulto" sobre estes mesmos temas demonstrando assim que não só são referências presentes no imaginário de qualquer indivíduo independentemente da sua idade e ao mesmo tempo faz uma interessante reflexão sobre como num momento trágico ou de uma iminente crise todos, sem excepção, amadurecem face a um ambiente que se tem como hóstil.
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