Desejos Selvagens de Tom Kalin é um dos mais perturbantes filmes que assisti nos últimos tempos. O porquê? Por causa do estrondoso mas incomodativo papel que Julianne Moore tem neste filme. Claro que já todos nós estamos habituados a que esta mulher dê ao seu público do melhor que tem e também daquilo que existe numa extraordinária actriz multifacetada e que respira e transpira talento.
Qualquer cinéfilo que a aprecie (duvido que exista um que não goste) sabe que em inúmeros dos seus desempenhos ela retrata mulheres não perdidas mas que se encontram à beira de um qualquer abismo. Seja ele psicológico ou físico, mas sempre transparente através de um olhar distante e vazio que dita o limite do ser humano. Do ser que ela transporta e representa. É esse mesmo vazio que a coloca num patamar arriscarei dizer intocável. Não temos um seu desempenho que possamos dizer "ah e tal não foi bom". Todos o são. Principais ou secundários ela entrega-nos sempre o seu melhor. Melhor... Ela entraga-nos o melhor.
Quanto ao filme, baseado numa história verídica, retrata a vida da disfuncional (uma vez mais) família Baekeland em que desde a sua formação sempre foi constituída por uma mãe (Moore) com uma aura grande demais para uma banal vida de mãe e um pai (Dillane) que não suportou ser colocado como um apêndice da sua mulher e procurava refúgio noutras. O filho (em adulto interpretado por um excelente Eddie Redmayne) viveu desde sempre um drama devido ao elevado e abusivo proteccionismo da mãe que se intrometida à custa dos ciúmes nas relações homossexuais do filho e via nelas, e especialmente nele, um conforto sentimental e sexual devido à ausência do marido que ela própria afastava.
Esta história que se desenvolve ao longo dos anos 60 pelos Estados Unidos, Espanha e Inglaterra chega ao fim no ano de 1972 quando o filho põe um termo na vida da mãe farto de ser o seu escape e consolo sentimental e sexual.
Aquilo que se torna a meu ver quase doentio neste filme não é o retrato de uma mulher desesperada que obrigou os demais, mais concretamente o seu marido, a afastar-se dela ou ter provocado a indiferença do filho pelo sua excessiva necessidade de o ter sempre presente. O que acho de facto doentio no filme são os últimos momentos do filme onde ela claramente sodomiza o seu filho para lhe dar uns momentos de prazer que não sentia, ou não se sentia capaz de ter, com outra qualquer pessoa.
Aquilo que se torna a meu ver quase doentio neste filme não é o retrato de uma mulher desesperada que obrigou os demais, mais concretamente o seu marido, a afastar-se dela ou ter provocado a indiferença do filho pelo sua excessiva necessidade de o ter sempre presente. O que acho de facto doentio no filme são os últimos momentos do filme onde ela claramente sodomiza o seu filho para lhe dar uns momentos de prazer que não sentia, ou não se sentia capaz de ter, com outra qualquer pessoa.
Digo doentio pois afirmo que Moore ultrapassou definitivamente a barreira que talvez até então tivesse, agarrando um extremo e forte papel com este filme. Excedeu-se a si própria agarrando um papel que a leva a um outro nível bem mais arriscado provando uma vez mais a capacidade extrema que possui enquanto uma magífica actriz, não que alguém, repito, pudesse disso ainda ter alguma dúvida.
Tudo o que de mais se possa dizer a propósito deste filme é quase "banal" face ao seu desempenho que é certamente um dos seus mais arriscados até à data e certamente também um dos mais fortes. Julianne Moore tem aqui um papel verdadeiramente à beira de um abismo enorme. Temos actriz. Temos uma grande actriz.
8 / 10
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